terça-feira, 7 de setembro de 2010

Onde está a Índia espiritualizada?

Faz quase dois meses que eu cheguei à Índia, e fazendo um balanço geral, ainda não me adaptei com o lugar. Confesso que essa adaptação está sendo uma das mais difíceis da minha vida. Mas, ainda tenho esperanças em encontrar a Índia espiritualizada, a Índia que sempre vimos na mídia ou nos livros. Lembro-me que quando li o livro “Comer, Rezar e Amar”, de Elizabeth Gilbert fiquei apaixonada pelos lugares que Elizabeth Gilbert tão bem narrou no seu livro, e um dos lugares que ela passou foi na Índia, aqui ela “Rezou”. Ela descreve a Índia espiritualizada, Índia das meditações, Índia do amor ao próximo, da misericórdia, da simplicidade...


Mas, o que eu vejo, pelo menos em Mumbai, é totalmente ao contrário do que a gente imagina ser. Aqui é o país das diferenças, do descaso e da miséria. As pessoas não vivem, sobrevivem! Pelas ruas não encontramos sorrisos e sim lágrimas, encontramos sofrimento e a fome estampada no rosto dos indianos.

Amor ao próximo? Ainda não vi... vi desamor: pessoas furando fila, multidões se atroplelando. Crianças nas ruas, milhares delas... Em cada esquina de Mumbai encontramos favelas, mas não pense você que as favelas são iguais às do Brasil. As favelas daqui são desumanas. São formadas por tendas de plásticos erguidas com gravetos. Nos dias de chuvas, você poderá ver criancinhas tremendo de frio esfarrapadas, magrinhas pedindo comida sob o olhar do descaso da população. Isso doi de ver, doi na alma, dá vontade de você pegar todas elas e cuidá-las.

Um dia desses eu não consegui segurar as lágrimas: uma criancinha, em torno de 4 ou 5 anos, aproximou-se oferecendo uma rosa vermelha para que eu comprasse. Claro que eu não quis comprar, pois com certeza um explorador de menores estava por trás disso. A criança estava abatida, com roupinhas rasgadas e pés tão pequenos sujos no chão. Ela se aproximou, e eu falei que não. Então ela abaixou-se e pegou no meu pé e queria beijá-lo. Sabe que os pés significam para um indiano? Significa a parte mais impura do corpo, você apontar os pés para um indiano é a pior coisa que você pode fazer. É a mesma coisa de jogar sapatos em um muçulmano, é a última coisa que se pode cometer. E a criança tocando no meu pé, significa que ela se propós ficar abaixo da impureza, abaixo de qualquer valor.

Mas, apesar de tudo, prometi para eu mesma tentar gostar da Índia. Tentarei explorar o que a Índia tem de melhor, pois de pior não preciso procurar muito, já está evidente logo na chegada.
Favela em Mumbai

Um comentário:

Unknown disse...

Cara Jackeliny,
As vezes tenho a impressão de que o quê se passa na Índia é um ciclo vicioso (os brâmanes & cia de hoje serão os Dalits ou os miseráveis de amanhã). Se os das castas superiores acreditam em reencarnação, então deveriam ter o máximo de respeito e cuidado para com os outros das castas inferiores. Caso contrário numa reencarnação seguinte, nasceriam como Dalits (intocáveis) para colher o que plantou numa encarnação passada. ACREDITE; a VIDA não pune ninguém pelo o quê não deve. PLANTOU COLHEU. Até porque a dívida não é para com a pessoa a quem foi feita a injustiça, e sim para com o PRÓPRIO UNIVERSO OU PARA COM A PRÓPRIA VIDA.
Um ser humano, seja ele quem for (não importa o nível sócio-econômico-cultural), não está no UNIVERSO e nem o UNIVERSO está nele; ele é o PRÓPRIO UNIVERSO.
Um ser, seja ele quem for, não está na VIDA e nem a VIDA está nele; ele é a PRÓPRIA VIDA. Por isso é que quando apontamos um dedo para outra pessoa, outros três ficam apontados para a gente; parece que como a dizer: OLHA MEU CARO ESTES TRÊS DEDOS QUE FICARAM APONTADOS PARA TI, É PARA LEMBRAR QUE EU O ONISCIENTE (PRIMEIRO DEDO) O ONIPOTENTE (SEGUNDO DEDO) E O ONIPRESENTE (TERCEIRO DEDO) HABITA ESTE LUGAR que você aponta, EM FORMA DE UMA CENTELHA DIVINA.