segunda-feira, 2 de maio de 2011

Manual de sobrevivência na Índia- Parte XII

Tudo que você precisa saber sobre a Índia e ninguém teve a coragem de te falar...

Continuação...



Seus filhos na Índia...

Estudante indiano

Disciplina, hora da atividade física



Escola, metodologia educacional indiana, agressões físicas na escola...

Aconteceu comigo...

Esse é um dos temas mais importantes desse guia. Gente, por experiência própria, não foi ninguém que me falou, eu vivi isso, e te dou toda certeza do mundo que isso aconteceu.
 Para quem me conhece melhor, sabe que eu tenho um filho de 7 anos, mas na época que chegamos na índia, ele tinha 6 anos, o nome dele é Erik. O Erik nasceu na Suécia, morou na Indonésia ,na Malásia e no Brasil; e já rodou o mundo desde pequeno, e sempre foi uma criança muito questionadora e não engole qualquer sapo, sempre foi de questionar as ordens recebidas. Aos 2  e 3 anos ele falava inglês fluente por influência dos amiguinhos e da nossa empregada da Malásia e Indonésia., mas quando mudamos para o Brasil ele logo esqueceu o inglês e começou a falar só português.É uma criança extrovertida, faz amizade fácil e é muito alegre. Sempre foi bom aluno, e amava a escola no Brasil. Saímos do Brasil no ano passado quando ele estava iniciando a primeira série, estava começando a ler quando mudamos para a Índia.

Meu marido veio primeiro à Índia para arrumar moradia e também ir adiantando as coisas, eu e o Erik  viemos 2 meses mais tarde. E por sorte assim que meu marido chegou em Mumbai  ele encontrou uma família brasileira numa loja em um shopping,  e eles por coincidência também tinham uma filha com a mesma idade do Erik. Resolvemos colocar o erik na mesma escola da filha deles. Essa família já estava morando a quase 6 meses aqui, e eles me avisaram que, outros brasileiros  tinham falado para eles que, aqui é normal os professores  baterem nos alunos. Mas, que poderíamos tentar evitar que isso ocorresse, era só conversar com a diretora  e explicar  que a nossa cultura é diferente, não se pode bater em crianças, e que não queríamos que isso acontecesse.

  Durante as primeiras semanas, o Erik só reclamava que as professoras e as ajudantes gritavam demais e arregalavam os olhos para repreender os alunos.
E um belo dia o Erik chega da escola chorando muito,  e falando que não queria ir mais para a escola. O abracei e pedi que ele me contasse o que aconteceu. Ele falou que uma das professoras tinha batido nele, perguntei onde ela tinha batido. Ele falou que ela tinha batido no rosto. Eu fiquei logo em pânico, pois por pior ato que o Erik faça nunca encostamos o dedo nele, na pior das vezes repreendemos colocando-o no canto. Pedi para ele contar toda história. Ele contou que estava  brincando de pega-pega no pátio, na hora do recreio,  com a amiguinha brasileira. E que de repente essa professora apareceu e gritou com os dois, e em seguida deu um tapa no rosto dele.

 Quando ele terminou de contar a história, subiu um calor no meu rosto e falei comigo mesma - Quem essa professora pensa que é  para bater no meu filho?- Liguei para a  mãe da coleguinha brasileira do Erik, nessa altura tínhamos ficados amigas. E ela me contou que a filha dela tinha comentado o fato, mas que não foi a professora que bateu, foi a diretora. Logo em seguida falei com meu marido, e ligamos para a escola. Eu fiquei em fúria. Falei com a diretora e ela confirmou que fez isso mesmo,mas que foi somente um “tap”. Tap, uma palavra em inglês que até hoje não entendi qual é o significado aqui na Índia. Para nós brasileiros seria como tapa. Resumindo, a diretora falou que fez isso porque ele estava correndo no chão molhado, e que “tap”  não é bater. Eu, que sou uma mãe leoa, nada muito calminha com quem mexe com as minhas crias, falei um monte para ela. Falei que era um absurdo, que se fosse no meu país ela estaria presa, que isso é considerado um crime contra um incapaz ....  ela pediu perdão e falou que isso não iria mais acontecer, e que por gentileza a gente desse mais uma chance.

O Erik ficou alguns dias em casa, sem escola. E meu marido, que tem mais sangue de barata que eu, pediu que eu reconsiderasse e perdoasse a falta da diretora e desse mais uma chance. E também levasse em consideração que não havia muitas escolas  na redondeza.
Na semana seguinte, reconsiderei o pedido de dar mais uma chance para a escola. Conversei com o Erik, e prometi que isso não iria mais acontecer, e que foi um erro. E ele  com carinha de medo perguntou para mim o que eu faria se isso acontecesse de novo. Falei que eu o amava muito , e que ninguém poderia bater nele,  de nenhuma forma e em hipótese nenhuma. E se acontecesse eu o tiraria de vez da escola.

Não demorou uma semana depois do acontecido, tentaram bater nele novamente, só que não na escola, tentaram batê-lo no rosto, dentro do ônibus escolar. Quem tentou bater foi uma moça que cuida das crianças durante o translado. A moça levantou a mão para bater no rosto dele e ele se esquivou para trás, e o tapa foi ao ar.

Depois deste acontecimento, tiramos o Erik da escola. Então, começou a nossa via crucis, o Erik  ficou traumatizado de ir a escola, chorava toda vez que eu falava para ele que tinha que ir. Fomos em outras escolas internacionais, os preços eram altíssimos, fora das nossas possibilidades. Até que uma colega nossa  indiana, sugeriu que contratássemos uma professora particular para ensinar o básico para ele. Contratamos, ela dava aula para o Erik todos os dias pela manhã. Logo, na primeira semana, falei o que tinha acontecido na escola do Erik. E avisei para ela, que não admitia que ninguém batesse no meu filho, que não era para ela tocar no Erik, em hipótese nenhuma. Mas, logo na segunda semana, o Erik entra no meu quarto chorando que a professora tinha dado um tapa na nuca dele e consequentemente bateu o queixo na mesa. Fui falar com a professora, e ela alegou que isso não era nada, que essa é a forma que as professoras mantêm a atenção dos alunos.

Resumindo: várias tentativas frustradas, eu já estava uma pilha de nervos. Pois, suporto bem: todas as mudanças, processos de adaptações... mas ver o filho  sofrer, para mim ,foi demais!
Conversei com alguns vizinhos, com alguns colegas de trabalho do marido. E todos achavam esse acontecimento muito engraçado, não entendiam a causa de tanta revolta nossa. Alguns falaram que as professoras têm como obrigação manterem a ordem a troco de pancadas na sala. Se o leitor quiser se aprofundar no tema, pesquise na internet, mas em inglês. Você verá casos brutais de professoras contra alunos, alguns artigos descrevem torturas..etc...

O que pude observar, é  que o sistema educacional indiano é arcaico. Não se usa de diálogos ou metodologia  psicológica. Sim, gritos, pancadaria e ditadura... as crianças fazem e não sabem o porquê estão fazendo. São pressionadas para serem as melhores sempre! O sistema educacional não tem respeito pelas características particulares do desenvolvimento emocional de cada criança. Criança, não tem direitos, e sim obrigações. Com 6 anos, elas devem saber a ler e escrever corretamente, e também deve ter noções de matemática. Meu filho era considerado um atrasado. Pois, crianças indiana, desde  quando nasce já é direcionada a ser o melhor! A ser o orgulho dos pais! Os primeiros presentes são jogos educativos, e levam consigo uma  carga enorme de obrigações, não é por nada que alguns sofrem de depressão e recorrem ao suicídio na adolescência. Pois, tirar notas baixas significa vergonha para toda família.

Vencidos pelo cansaço, já tínhamos desistido em encontrar uma escola para o Erik. Até , que, o um colega estrangeiro do trabalho do meu marido, sugeriu uma escola internacional que  a filha dele estava estudando. Fomos nessa escola e explicamos a situação, e o diretor nos garantiu que a metodologia deles era diferente. Pois, eles tinham essa ideologia e o selo Educacional da Cambridge, e tinha que seguir a mesma forma européia educacional.  E se eles  não seguissem o padrão, poderiam perder  o selo e o direito de ensinar. Então, vimos que lá parecia mais sério. O Erik começou a escola, e claro que alguns funcionários tentaram bater no Erik. Mas, avisamos para a direção, e eles foram advertidos, e nunca mais aconteceu nenhuma agressão.

Portanto, se você quer colocar seu filho numa escola na Índia, veja se a escola tem  alguns selos educacionais de metodologia ocidental. E também explique para a direção da escola que nossa cultura é diferente, que não admitimos agressão de nenhuma forma, e mesmo assim fique bem atenta e questione seu filho sobre a escola todos os dias.


Imagens: google imagens

3 comentários:

Tânia Moura disse...

Por essa Jackie eu não esperava ...que coisa absurda eu que fiz 03 disciplinas de Psicologia do Desenvolvimento fique chocada !!!!!!é muita mudança e muita coisa para assimilar graças a Deus você consegui superar e o Erick está bem agora .

Jackeliny Palmgren disse...

Verdade Tânia. Mas, não foi fácil... Beijos.

Anônimo disse...

Infelizmente para viver uma vida internacional, as empresas, no minimo, devem proporcionar um padrao e qualidade de vida para o funcionario e a familia. Vejo o seu caso como uma confirmacao de que as culturas sao realmente diferentes e sem uma estrutura economica boa fica complicado viver fora do nosso pais. Meus 3 filhos estudam na escola americana em Mumbai, a empresa paga 100.000 dolares anualmente para a educacao deles e esse beneficio eh o diferencial. Mumbai para mim eh toda uma experiencia de vida e gracas a Deus estamos aqui ha mais de um ano e nao tenho o que reclamar. Da diferenca cultural? Nossa isso sim da pano para muita manga!!!!Boa sorte na proxima vez.